segunda-feira, 21 de junho de 2010

HINOS NACIONAIS NA COPA

Todas as equipes dos participantes da Copa do Mundo, antes do início de cada partida cantam o hino nacional. O canto reflete a história e a alma do país de cada equipe, tanto na letra como na melodia, embora tal assunto não tenha sido muito bem explicado na imprensa falada e escrita.
Analisando hino por hino, poderemos constatar diferenças e semelhanças, mas todos eles têm características bem definidas que não se explicam pelas regras musicais, mas por outros elementos que vão muito além da escala de dó e si.
Os hinos das monarquias, como Inglaterra, Holanda, Dinarmarca e Suécia, por exemplo, têm em comum a característica de serem solenes, pomposos, fúnebres e religiosos. Isto porque tais hinos são cantados para celebrar o nascimento do rei, sua coroação e sua morte, atos que são praticados dentro de igrejas e catedrais.
O hino da França, todavia, foi composto para ser cantado nos campos de batalha. Tanto seu compasso marcial e vibrante como o seu texto guerreiro, destinam-se a empolgar os soldados contra o inimigo. Exatamente com esta intenção e características foi criado em 1792, por Claude Joseph Rouget de Lisle. Cantado pelo exército de Marselha, que o espalhou por toda a França, tomou o nome de Marselhesa como ainda é conhecido até hoje. É dado pela crítica como sendo o hino nacional mais bonito do mundo.
Mas, encontra sério concorrente no hino nacional do Brasil de características bem diversas.
O hino nacional brasileiro é festivo, sem ser banal, vibrante e marcial, mas sem o caráter belicoso do hino francês. É solene e majestoso e não fúnebre. Pode ser cantado em qualquer meio: na igreja, na escola, na praça e numa festa civil ou religiosa.
Muitos críticos importantes o consideram o mais bonito do mundo. Vale, então, lembrar um artigo do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, publicado no Jornal “Diário do Iguaçu”, de 20/21.02.2010, onde o autor remete à Copa do Mundo de 2002, quando o jornal britânico ‘The Guardian’, “sugeria que os ingleses acordassem mais cedo para assistir à partida entre Brasil e Inglaterra e”...”prestassem atenção ao mais bonito Hino Nacional dentre os dos países classificados para as quartas de final. O hino nacional brasileiro é um dos grandes legados do Brasil para a felicidade humana, dizia o editorial do ‘Guardian’, que classificava o hino do Brasil como o mais musical de todo o mundo, “expressando musicalmente o que Pelé e seus sucessores demonstram no campo de futebol”.
A Copa do Mundo que se desenrola hoje na África di Sul é mais uma oportunidade para que apreciemos os hinos nacionais dos países que dela participam, até porque os minutos em que são executados podem ser o momento mais emocionante e instrutivo da rodada, diante de tantos jogos medíocres que ocorrem no tapete verde.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Política - Mulheres Felinas

A mulher na política é um fenômeno moderno. Angela Merkel é a Chanceler que hoje governa a Alemanha, o mais poderoso país do continente europeu. No Chile, Michele Bachelet, foi Presidente da República de 2006 a 2010. Hillary Clinton nos Estados Unidos fala como se fosse dona do poder. Na América do Sul a primeira mulher poderosa foi a argentina Eva Peron, falecida em 1952.
No Brasil já começaram a surgir as mulheres políticas como Luiza Helena, Marina Silva e Dilma Roussef, principalmente, todas na “ativa” e de todos os brasileiros conhecidas.
Trata-se de uma nova realidade que remete a Monteiro Lobato. Em “O Presidente Negro”, 1926, o renomado escritor traça o diálogo entre o personagem Airton e Miss Jane nos seguintes termos:
“Mas antes de lá chegarmos temos que fazer um rodeio político. Gosta de política, senhor Airton?
-- Nem eleitor sou, Miss Jane.
-- E de política feminina?
-- Essa desconheço. Suponho, entretanto, há de ser mais felina que a dos homens”.
De modo que nossas candidatas – Luiza Helena, Marina e Dilma são as felinas que enfrentam José Serra, que é um bicho-político de outra espécie.
A maior e mais forte das felinas é Dilma Roussef, verdadeira onça tropical, predadora e que antes de dar o bote “olha tudo o que tem que olhar”.
A novata Marina Silva, tendo sido comparada a uma “gata” por causa do seu vice, o bilionário Guilherme Leal, respondeu que se considera uma simples jaguatirica. Esse animalzinho tem o hábito de assaltar o galinheiro do pequeno agricultor.
O candidato tucano, José Serra, para não ficar devendo, saiu-se, faz poucos dias, com essa pérola: “Nós do PSDB estamos mais para pata do que para galinha”. Provou que pertence à ordem dos galináceos, na qual se inclui o tucano.
A propósito, qual candidato do PSDB ou eleitor desse partido sabe para que serve o grande bico do tucano? Recentes descobertas da ciência explicam que o bicão do tucano serve para refrescá-lo, e é por isso que está cheio de furos, e também é por isso que à noite ou quando é frio, abriga o bico debaixo das asas. Narizinho enganador!...
O tucano parece um inocente pássaro, mas é um grande predador, vive assaltando os ninhos da floresta para comer-lhes os ovos, e assim pode ser considerado tão feroz quanto a onça ou a jaguatirica.
Conhecendo os animais, ficamos conhecendo os políticos. É a lógica.
Político muito safado e especialista em jogo duplo é dado como “raposão”; político escorregadio e que vai resvalando de acordo com as circunstâncias é conhecido como “jundiá”, de tão liso; político corrupto e ladrão normalmente é conhecido por “cobra criada”; é um animal venenosíssimo.
O povo costuma ofender os políticos chamando-os de burro. É uma ofensa ao burro, pois esse animal é calmo, trabalhador e inteligente. Trabalha muito e come pouco, sem reclamar, ao contrário dos políticos que comem muito e trabalham pouco, vivem reclamando, e têm o hábito de devorar o erário em pouco tempo, através de falcatruas e superfaturamentos. Por essa razão o burro poderia ser considerado exemplo de responsabilidade fiscal. O burro não entra em frias. Quando anda em qualquer caminho, fareja de longe o perigo, de uma onça ou jaguatirica, o que não acontece com os políticos.
Além disso, o burro é inteligente: prevê chuvas, enxurradas, ventos e tempestades melhor do que qualquer instituto metereológico, coisa que os nossos políticos não alcançam. E os fatos não metem. Faz mais de cem anos que ocorrem enchentes, inundações e soterramentos nas cidades brasileiras e os políticos que as governam jamais conseguiram prever e evitar tais catástrofes. Portanto, estudemos e conheçamos nossos animais, porque somente assim entenderemos nossos políticos. Poderemos, então, tranquilamente dizer: “quanto mais conheço os homens (políticos) mais admiro os animais”.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

TRATADO DE MADRID

A fundação de Rio Grande, em 1737, consolidou para Portugal a posse da faixa litorânea do extremo sul. A partir desse ponto estancieiros criadores de gado lançaram-se à conquista dos campos situados a oeste, colocando-se em conflito com os espanhóis confinantes que forçavam avanços em sentido contrário. Após quase um século de confrontos, todo o território hoje pertencente ao Rio Grande do Sul caiu sob o domínio de Portugal, ora pela guerra, ora por tratados de limites.
Os principais tratados de limites foram o de Madrid, assinado em 1750, e o de Santo Ildefonso, assinado em 1777, e ambos tiveram como consequência guerras entre portugueses e espanhóis confinantes. Ao final, as armas acabaram se impondo sobre a diplomacia com vantagem para os brasileiros dos pampas.
O tratado de Madrid dizia que as terras até então povoadas pelos portugueses seriam de Portugal e as povoadas pelos espanhóis seriam da Espanha, com uma exceção: a colônia de Sacramento, que fora fundada por Portugal, passaria para a Espanha, pois se localizava no extremo sul da atual República do Uruguai; em troca a Espanha cederia a Portugal os Sete Povos das Missões, fundados pelos jesuítas espanhóis. Os povos guaranis, ali aldeados, deveriam se transferir para a margem direita do Rio Uruguai, em domínios do Reino da Espanha.
Os índios recusaram-se a cumprir as determinações do Tratado de Madrid levantando-se em armas contra os demarcadores portugueses e espanhóis. Em 1756, tropas portuguesas, compreendendo 1.600 homens e tropas espanholas com 1.700 combatentes, munidos de armas de fogo enfrentaram um exército de 2.500 índios guaranis armados apenas de arco e flecha. Neste combate desigual foram chacinados 1.500 índios. Os sobreviventes, ou se dispersaram ou passaram para a margem direita do Rio Uruguai, em terras da Espanha, e o território por eles ocupado foi entregue a Portugal. Para ocupar a área onde habitavam os Sete Povos das Missões o Rio Grande do Sul, já possuía boa estrutura do ponto de vista político, administrativo e econômico, já que o Forte de Rio Grande existia desde 1737. Entretanto, em 1761, o Tratado de Madrid foi anulado porque Espanha e Portugal, mais uma vez, colocaram-se em campos opostos na chamada Guerra dos Sete Anos, que se travava na Europa.
Em 1763, D. Pedro de Ceballos Cotes y Calderón, Governador de Buenos Aires e futuro vice-rei da Prata, a frente de 6.000 homens, depois de atravessar os campos desabitados do Uruguai, toma a Vila de Rio Grande, que será ocupada pelos espanhóis durante 13 anos. Nesse período a capital foi transferida para Viamão, até 1773, e depois desse ano para Porto Alegre. Em 1773, o governo de Buenos Aires envia tropas para ocupar Rio Pardo, sendo repelido por seus defensores, comandados por Rafael Pinto Bandeira, que passou ao contra-atacaque, utilizando a tática de guerrilha, a cavalo. No contra-ataque, Rafael Pinto Bandeira ocupou posições importantes que tinham sido instaladas pelos invasores espanhóis. Em 1776, o governo do Rio de Janeiro enviou 6.800 soldados para libertar a Vila de Rio Grande, objetivo que foi alcançado no mesmo ano.
Com essas vitórias portuguesas os espanhóis estariam alijados do Rio Grande do Sul. Entretanto, o governo da Espanha não desistiu do seu intento de ocupar o sul do Brasil. Em novembro de 1776, lançou ao mar a maior expedição jamais saída de um porto espanhol para a América: 115 navios, tripulados por 8.500 homens e transportando um exército de 9.500 combatentes. Com parte dessa expedição comandada por Pedro Ceballos, em 1777, tomou a ilha de Santa Catarina, de onde os espanhóis pretendiam retomar a vila de Rio Grande e todo o território antes perdido. Mas, novamente, Espanha e Portugal se acertaram, voltando à paz dos tempos anteriores, e firmaram o Tratado de Santo Idelfonso, em função do qual o Rei da Espanha determinou a Ceballos que encerrasse a ocupação do sul do Brasil.

ESPANHÓIS CONFINANTES E DOMÍNIO ESPANHOL

Em termos de divisão geográfica, na América do Sul, os espanhóis sempre foram os confinantes do Brasil, e isto começa em 1494. Após a descoberta da América, em 1492, Portugal, Espanha, as principais potências marítimas do mundo da época, estavam a ponto de entrar em guerra pelo domínio das terras descobertas.
O Papa Alexandre VI, prevendo que uma guerra entre duas potências cristãs traria grandes prejuízos para a cristandade intermediou um acordo, do qual se originou o Tratado de Tordesilhas, que estabelecia um limite entre os domínios de Portugal e da Espanha no Novo Mundo. Foi traçada assim uma linha imaginária, ao Meridiano de Tordesilhas, que passaria a 370 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde e Açores e que, concretamente, no Brasil, se estenderia de Belém do Pará a Laguna, em Santa Catarina; as terras a leste dessa linha seriam de Portugal e a oeste da Espanha. A autoridade papal garantiu o cumprimento do acordo, e, quando o Brasil foi descoberto, em 1500, já era terra de Portugal.
A colonização da América do Sul começou pelo litoral. A Espanha fundou povoações ao longo da costa do Mar do Caribe e do Oceano Pacifico, enquanto que os portugueses estabeleceram-se no litoral atlântico, fundando a primeira povoação denominada São Vicente, em 1532, no sul, e muitos anos depois povoações mais ao norte, a começar da Bahia e Rio de Janeiro.
A roda da história girou, e, em 1580, faleceu o Rei de Portugal, Dom Henrique, sem deixar herdeiros. Por direito, embora remoto, o Rei Felipe II, da Espanha, seria o seu sucessor, e foi assim coroado rei de Portugal. Este acontecimento fez com que todas as terras pertencentes a Portugal, inclusive o Brasil, passassem aos domínios de Espanha, situação que perdurou até 1640, quando foi restaurado o reino português.
Sob o domínio espanhol não havia limites territoriais a serem respeitados, o que permitiu aos colonizadores portugueses, com base de apoio em São Vicente avançarem para o oeste, sem qualquer barreira legal, ultrapassando a então Linha de Tordesilhas.
Por algumas décadas não se verificaram conflitos entre espanhóis e portugueses na América do Sul, até que surgissem as missões dos padres jesuítas espanhóis, a partir de 1610, na região de Guairá, atual Estado do Paraná e a partir de 1626 no Rio Grande do Sul.
Na data do descobrimento da América a Espanha era o maior Império do mundo e nessa posição se manteve por mais de dois séculos, embora atacada e desgastada pelos rivais emergentes: Inglaterra, Holanda, França e finalmente os Estados Unidos da América. Considerando-se apenas o seu território, a Espanha, em 1492, era composta por Castela e Aragão, com 8 milhões de habitantes, contra 10 milhões da França, 2 milhões da Inglaterra e em torno de 1 milhão de Portugal. Para colonizar e administrar a América do Sul instalou o vice-reino do Peru, composto do que seriam mais tarde os países do Peru, Equador, Bolívia, Argentina e Paraguai; o vice-reinado de Nova Granada, que seria a Colômbia; a Capitania Geral da Venezuela, que seria a Venezuela e Guianas e a Capitania Geral do Chile, que seria o Chile. Em 1776, criou o vice-reinado da Prata, composto pelos paises que hoje são Bolívia, Argentina e Paraguai.
O território que depois se tornaria vice-reino da Prata, em 1776, foi o mais abandonado pela Espanha, da mesma forma que o território que hoje compõe o Rio Grande do Sul foi o mais abandonado por Portugal. Todavia, ambos passaram a ter importância a partir de 1700. Até a data do Tratado de Madrid e da Guerra Guaranítica, o Rio Grande do Sul era domínio da Espanha, com exceção da faixa do litoral. Na luta pela posse deste território Portugal teve melhor sorte, porque o vice-reino da Prata era despovoado, embora a metrópole espanhola fosse a nação poderosa do mundo. Em 1776, recém criado vice-reino do Prata, a Argentina teria em torno de 300.000 a 350.000 habitantes, não se contando Paraguai e Bolívia. As cidades principais eram Buenos Aires com aproximadamente 25.000; Córdoba, 8.000 habitantes, e Santa Fé, 1.400 habitantes.
Em todo o território que depois seria o vice-reino do Prata, no inicio da colonização, havia em torno de 1.5 milhões de índios, a maior parte deles na Bolívia e no Alto Peru, restando em torno de apenas 300.000 índios no território da atual Argentina.
Por estas estatísticas é possível se concluir que as missões jesuíticas do Rio Grande do Sul, povoadas em grande parte por guaranis vindos da margem direita do rio Uruguai, não seriam grandemente povoadas.

GAÚCHO PRODUTO DO MEIO

Os portugueses, açorianos, lagunenses, mineiros e paulistas que acompanharam Cristóvão Pereira até o Rio Grande do Sul e ali se misturaram com índios deram origem a um novo tipo de brasileiros, depois denominado gaúcho.

O pescador de Desterro e de Laguna deixou de ser pescador para se transformar num homem a cavalo, criador de gado e dono ou peão de instância, com hábitos totalmente diferentes daqueles que antes possuía. O mineiro deixou de ser o sertanista, e o paulista perdeu seus costumes açucareiros.

O pampa, o cavalo e a criação de gado a todos unificou e amoldou numa demonstração perfeita de que o homem é produto do meio.

Quando surgiram as guerras contra os espanhóis confinantes os homens do pampa transformaram-se em guerreiros, agressivos como os antigos bandeirantes paulistas e astutos como os mineiros. E é por isso que o historiador fluminense Oliveira Vianna, em seu livro ‘Populações Meridionais do Brasil’, afirmou: “O gaúcho é socialmente um produto do pampa, como politicamente é um produto da guerra”, açorianos chegados em grandes levas ao Rio Grande do Sul, a partir de 1752, transformaram-se rapidamente em homens do pampa. Também os alemães, chegados a partir de 1824, malgrado suas fortes traições, sucumbiram ao meio. Aderiram aos cavalos, aos pampas e às tradições gaúchas, o que não aconteceu com os alemães de Santa Catarina, habitando outro meio, enclausurados entre morros, assunto mais detalhadamente explicado adiante.

Nenhum povo escapa às imposições do meio e a história mostra esse fato em muitas oportunidades. O inglês cercado de neblina, tornou-se supersticioso, sua noite é povoada de bruxas e fantasmas e sua literatura tem como temas básicos castelos assombrados. Ao contrário, os povos dos desertos iluminados possuem histórias encantadas em mil lendas. Aqueles que vivem nos trópicos quentes sempre são mais alegres e espontâneos do que aqueles que vivem nos climas frios, úmidos e de pouco sol, como é a Europa Setentrional. O homem do deserto age de forma diferente que o habitante da montanha.

É por isso justo se afirmar que o meio do pampa, com seus cavalos e seus rebanhos de gado produziu o tipo humano denominado gaúcho, que se distingue claramente do restante dos brasileiros.

PRIMEIROS GAÚCHOS

Na análise de todos os elementos que compõem a expedição de Cristóvão Pereira de Abreu, destacam-se o tropeiro, o gado, os cavalos, os muares e a gente que deu origem ao povo gaúcho, composta de mineiros, paulistas, açorianos de Desterro, e lagunenses, que iriam se misturar os índios dos pampas – minuanos, charruas, tupis e guaranis. A maior parte dessa gente, das mais diversas origens, em contato com a vida do campo e forçados pela necessidade de combater os invasores castelhanos, transformaram-se em cavaleiros e guerreiros.

Desde logo foram sendo distribuídas sesmarias aos primeiros povoadores. Redutos e estâncias iam se instalando nas proximidades de Rio Grande, sendo o principal dele o Forte de Rio Pardo, no Vale de Jacuí, que se transformou em grande sentinela avançada na luta contra os castelhanos.

O comércio de mulas, gado e charque, em direção a Minas Gerais, comandado pelos tropeiros, prosperou rapidamente. No retorno os tropeiros traziam do norte produtos que não existiam no Rio Grande do Sul. Esta situação perdurou, sem grandes movimentos bélicos, até 1750, quando foi celebrado entre Portugal e Espanha o Tratado de Madrid, que entregaria à Espanha a colônia do Sacramento, recebendo o Reino de Portugal, em troca, os Sete Povos das Missões.

HISTÓRIA DE SÃO LOURENÇO DO OESTE


Considera-se o início da colonização de São Lourenço do Oeste, o ano de 1948, quando aqui chegaram, entre outras, as famílias Libardoni e Echer, vindas da localidade de Santa Lúcia do Piaí, município de Caxias do Sul.

Todavia, muitas décadas antes dessa data, o território que pertence hoje ao município de São Lourenço do Oeste era povoado, na linha do divisor Paraná – Santa Catarina, onde encontravam-se já formadas as localidades de São Lourenço, Macacos, Três Voltas e Saudades, e que pertenciam, então, ao distrito de Campo Erê, criado em 1917, juntamente com outros quatro distritos do recém criado município de Chapecó: Xanxerê, Passo das Flores, depois Abelardo Luz, Barracão e Passo Bormann.



Levantamentos contábeis da Sub-Prefeitura do distrito de Campo Erê, elaborado em 1924, relaciona cinqüenta famílias morando na localidade de São Lourenço, com os seguintes sobrenomes: Mateus de Oliveira, Domingues de Lima, Antunes de Lima, Traidock, Antunes Rodrigues, Pereira Silva, Fernandes Oliveira, Ribeiro Paz, Gomes Santos, Batista de Godois, Chagas, Amaro, Tamoio, Alves da Luz, Almeida, Cabral, Antunes Oliveira, Antunes da Rocha, Farias, Santos, Lemes da Silva, Ferreira Barbosa, Antunes Poncicá, Aires Guerreiro, Rodrigues Forte, Rodrigues Pereira, Bermit, Rodrigues Fonte.

Na localidade de Macacos havia vinte famílias com os seguintes sobrenomes: Farias, Silvério dos Santos, Barbosa, Abreu, Pacheco Santos, Schimidt, André, Ferreira Menoes, Leite, Jeremia, Baitaca, Gomes Santos, Martins, Antunes, Tomais, Machado e Albino.

Em Três Voltas moravam quinze famílias, portadoras dos seguintes sobrenomes: Amaro Maciel, Garcia, Chagas, Machado, Antunes e Cordeiro Camargo.

Na localidade de Saudades existiam vinte e quatro famílias, tendo os seguintes sobrenomes: Monteiro, de Paula, Mendes Santos, Alves Oliveira, Gormedes, Alves da Rocha, Pereira, Souza Fontes, Courado, dos Santos, Cardoso, Amaral, Patinho, Romário, Alves.

O documento que relaciona o nome desses moradores é manuscrito e está em poder do atual vereador João Neir Rocha, descendente da família Rocha Loures, entre as mais antigas e importantes de Campo Erê.

Pode-se, então, concluir que o atual território, hoje pertencente ao município de São Lourenço do Oeste, era bastante povoado, em 1924, e suas atividades principais, além da rural, eram a pecuária, a criação de tropas e a fabricação de erva mate por meio de barbaquá, conforme esse documento indica.

Quando da criação do município de Campo Erê, em 1917, essa população provavelmente aqui já existia, embora um pouco menor.

Essas famílias de moradores antigos eram originárias, na maioria absoluta, de Palmas, Guarapuava e Clevelândia, atual Paraná, raros do Rio Grande do Sul, e tiveram por objetivo estabelecer-se na rota que, através do divisor das águas das bacias do Uruguai e do Iguaçu, levava ao Barracão, na Argentina.

Essa rota começou a ser trilhada por tropeiros do Brasil, rumo à Argentina, a partir de 1830.

É por isso que, segundo historiadores fidedignos, já em 1858, havia muitos moradores, no território onde hoje se situa o município de Campo Erê.

A esses moradores deve-se a conquista do oeste catarinense e sudoeste do Paraná para o Brasil. Tanto isso é verdade que o povoamento dos Campos do Herê serviu de argumento ao Barão do Rio Branco para provar ao árbitro Grower Cleveland, presidente dos Estados Unidos, que o Território das Missões, disputado entre Brasil e Argentina, pertencia ao Brasil, porque brasileiros foram seus primeiros povoadores.

São Lourenço do Oeste, localizava-se na rota de Campo Erê, a partir de Clevelândia para o Barracão, sendo então razoável se acreditar que começou a ser trilhado e povoado pela mesma época, 1858, como argumentava o Barão do Rio Branco, baseado em eminentes historiadores nacionais.

O povoamento intensificou-se durante e depois da Guerra do Paraguai (1864 – 1870).

Naquele tempo o avanço para essas regiões era feito com tropas de mulas e cavalos, abrindo-se picadas e picadões. Não havia estradas para carroças. Criava-se gado e praticava-se a agricultura de subsistência, pois era impossível o comércio de produtos agrícolas em grande escala, por falta de estradas. A grande fonte de exploração era a erva mate, exportada para a Argentina, de onde vinham, em troca, mulas e algumas manufaturas.

As terras não possuíam escrituras.

A colonização que se iniciou a partir de 1948, mudou radicalmente esta situação e é a isto que se dá à denominação de colonização de São Lourenço do Oeste, através de pioneiros, ou colonos, ou imigrantes, vindos do Rio Grande do Sul e do litoral sul de Santa Catarina.

A colonização foi obra planejada entre o governo e empresas colonizadoras.

As empresas recebiam do governo vastas áreas de terras, a preços baixos, com o compromisso de povoá-las, vendê-las devidamente loteadas e escrituradas a colonos e fixar as sedes da colonização.

A empresa que adquiriu as terras pertencentes ao atual município de São Lourenço do Oeste foi a Empresa Colonizadora Industrial Saudades, constituída em 1948. Tinha sede em Chapecó e os seguintes sócios: Serafim Enos Bertaso, Jaime Bertaso, Paulo Pasqualli, Herminio Tissiani, João Tissiani, Luiz Colombi, Marcos Antonio Trombetta, Guilherme Tissiani, Dante Antonio Motin, José Posser, Luiz Mariotti, Guilherme Sartori, Ângelo Sartori, Agostinho Domingos Stefanello, David Stafanello, Pioanacleto Stefanello, Guilherme Leopoldo Hack, João Beux Sobrinho, Luiz Menegatti, Aquiles Tomazelli e Edite Aida Mendes.

Todos esses sócios eram direta ou indiretamente originários do Rio Grande do Sul, com exceção de Edite Aida Mendes, esposa de Arnaldo Mendes, que era do litoral de Santa Catarina.

Mas somente quatro deles participaram ativamente na formação histórica do município: Guilherme Leopoldo Hack, Agostinho Stefanello, João Beux Sobrinho e Arnaldo Mendes, este esposo da sócia Edite Aida Mendes.

Guilherme Hack foi o primeiro gerente local da empresa Saudades, de 1950-1952, enquanto que Agostinho Stefanello era o gerente geral.

Agostinho Stefanello foi quem escolheu o local onde se deveria construir a vila, comandou a construção do primeiro barracão da empresa e fez as vendas de terras e lotes aos primeiros colonizadores. Residiu cerca de um ano em São Lourenço do Oeste, em 1950.

João Beux Sobrinho, aqui chegou em 1950, radicando-se definitivamente.

Em 1952, a empresa Saudades teve alterações. Vários sócios saíram da sociedade, entre eles Agostinho Stefanello e Guilherme Hack .

Guilherme de sua parte recebeu lotes na vila e terras nas proximidades.

Com a alteração a empresa ficou sob o comando de Arnaldo Mendes, o qual entregou a gerência, primeiro a Agostinho Stefanello em 1952-1953, e depois a José Ebling, aqui chegado em 1952.

Arnaldo Mendes e sua esposa Edite Aida Mendes nunca residiram em São Lourenço do Oeste e dirigiam a empresa através de prepostos. Mas devem-se a Arnaldo Mendes algumas das principais realizações de estruturação da vila, depois distrito, e depois cidade de São Lourenço do Oeste: mandou abrir 360 Km de estradas, servindo-se dos tratoristas Nelson Lara e Ido Silva; doou terrenos para construção de capelas, Igreja Matriz, escolas e repartições estaduais e municipais, para o primeiro hospital, para o CRA e para o Educandário Santa Maria Goretti. Em 1954 construiu o primeiro hospital de São Lourenço do Oeste, que depois vendeu para Dorvalino Silvestri e Martin Sordi. Estes o venderam depois ao Dr. Miguel Belmonte, o qual, por sua vez, o vendeu aos irmãos Albino e Martin Sordi e Sabino Santin, os quais, finalmente, em 1961, o venderam para o Dr. Bronislau Polan Breowicz.

Essas eram as providências que todas as empresas colonizadoras tomavam para o povoamento das terras compradas do governo.

Em 1959, a empresa Saudades alterou a denominação para Companhia Colonizadora Industrial Saudades, sob a direção de Arnaldo Mendes.

Em 1960, esta Companhia comprou mais 600 colônias de terras com matos e pinhais, às margens do rio Três Voltas.

Em 1948 e 1949, quando começaram a chegar os primeiros desbravadores oriundos do Rio Grande do Sul e do litoral sul de Santa Catarina, existiam vários ranchos de caboclos, no lugar onde hoje está a cidade, bem como nos arredores, pertencentes a Miguel Mariano, Procópio Lopes, entre outros.

Frederico Wastner, a partir de 1946, habitava na localidade que hoje leva seu nome, onde exerceu o cargo de Inspetor de polícia.

No local onde hoje está localizada a Igreja Matriz, havia um rancho e um velho laranjal; pelas bandas da Linha Campina habitava João Maria de Souza e muitos da mesma família, ali estabelecidos ainda antes de 1930. Havia também bodega e açougue, pertencente a Inácio Sendenski, o qual trazia produtos de Pato Branco.

Para abrigar os primeiros colonos italianos e alemães atraídos pela Colonizadora foi construído um barracão, medindo 7 x 30 metros, com esteios de bracatinga, localizado na esquina da Avenida Brasil com Nereu Ramos, frente ao atual Mercado Libardoni.

Trabalharam na construção deste barracão, sob o comando de Agostinho Stefanello, Agenor Bento, antigo morador do lugar e o agrimensor Ernesto Beuter, ajudados, evidentemente, por alguns peões.

Os primeiros a entrar nesse barracão foram Desidério Costa, em 1948, e Artur Follamm, em 1948, além das famílias de Agenor Bento e Ernesto Beuter, no inicio de 1949.

Todos os primeiros colonos, ou quase, passaram algum tempo nesse barracão até construir suas casas. Cabiam nele muitas famílias, até porque elas tinham poucos pertences.

Em fevereiro de 1949, Paulo Libardoni e João Lazzarotto, vieram da localidade de Santa Lúcia do Piai, município de Caxias do Sul, para comprar terras e lotes. Mudaram-se em maio de 1949, trazidos por um caminhão Ford 1946, conduzido por Armindo Ecker, e se instalaram no Barracão de Bratinga.

Nessa mudança vieram vinte e duas pessoas entre crianças e adultos: Paulo e Benedita Libardoni com seus cinco filhos, o casal João e Verônica Lazzarotto com seus sete filhos, Constante Costa, Sebastião Muraro, Guerino Echer e Sixto Echer .

As famílias Libardoni e Lazzarotto, além de Constante Costa permaneceram em São Lourenço do Oeste e os outros regressaram para pegar suas mudanças.

Na esteira de Paulo Libardoni, e logo após, vieram outros gaúchos de Caxias do Sul: Belfiore Lazzarotto, Maximiliano Lazzarotto, Cláudio Moschen, Guerino Valduga, Guerino Echer e viúva Angelina Echer. Da região de Erechim, onde a fama de São Lourenço começou a se propagar, também chegaram as famílias: Tenutti, Bessegatto, Vitório Dallagnol, João Dallagnol, Ângelo Biazussi, Luiz Dallagnol e outros. De Santo Ângelo, onde havia caxienses, chegaram: Francisco Camello, Ângelo Camello e Elizeu Possobom.

A chegada da família Libardoni e de João Lazzarotto foi um marco importante na história da colonização de São Lourenço.

Ao sair do barracão, a família Libardoni, associada à família Echer, instalou um grande comércio no lugar onde hoje é o Mercado Libardoni.

Foram precedidos, entretanto, pelos seguintes pioneiros:

AGENOR BENTO – Caboclo de Campo Erê, chegou em São Lourenço em maio de 1948, a serviço da empresa Saudades, com a finalidade de auxiliar Ernesto Beuter na construção do barracão de Bracatinga, na abertura da Avenida Brasil, ruas e estradas. Sua esposa Joana foi a cozinheira do barracão.

ERNESTO BEUTER - Também chegou em 1948 para construir o barracão, abrir a avenida e ruas da vila, a serviço da empresa. Em janeiro de 1949, mudou-se com a esposa Virginia e filhos para o barracão que acabara de estar pronto. Era agrimensor e traçou a planta da vila, e depois cidade de São Lourenço, dotando-a de avenidas largas e de mão dupla. Entre 1948 e 1953, mediu todas as terras de São Lourenço. Natural de Cruz Alta, faleceu em 1954.

DESIDERIO E ANGELINA COSTA – Provenientes de Ermo, SC, chegaram a São Lourenço do Oeste em 21 de setembro de 1948, e se instalaram no barracão da empresa que estava em construção.

ARTUR FOLLMANN – originário do Rio Grande do Sul, chegou alguns dias após Paulo Libardoni. Instalou-se no barracão. Nos meses de junho e julho construiu uma casa de dois andares no terreno onde hoje está situado o prédio do BESC, que serviu de bodegão e hotel, que foi o primeiro do lugar.

Aos poucos iam sendo lançadas as bases da vila de São Lourenço. Com a abertura da Avenida Brasil, de algumas ruas e da estrada para Vitorino avolumou-se a chegada de colonos originários do Rio Grande do Sul e do litoral sul de Santa Catarina, podendo ser relacionados os seguintes pioneiros, bem como sua principal contribuição para o desenvolvimento da localidade de São Lourenço.

EDMUNDO LARA - Gaúcho de Carazinho, mudou-se de Xaxim para São Lourenço em 14 de julho de 1949. Instalou-se no barracão da empresa Saudades até construir sua casa. Era técnico em várias áreas e, utilizando-se de um motor diesel de 30 hp, implantou a iluminação elétrica em sua residência e outras casas e estabelecimentos da vila de São Lourenço. Em setembro de 1949, montou a serraria da empresa Saudades que se localizava na esquina da atual Travessa São Pedro com a General Osório, com o que os novos colonos passaram a ter tábuas para construir suas casas, não precisando mais adquiri-las em Vitorino e arredores. Organizou também, numa parte de sua residência um pequeno salão de baile, o primeiro do lugar e que foi a primeira sede do CRA ( Clube Recreativo Araucária), fundado em 07 de setembro de 1951, e cujo campo de futebol localizava-se no atual campo desse clube.

VALENTIM ROSSO - Casado com Maria Rosso Fontana, chegou em 29 de julho de 1949, procedente de Criciúma. Trouxe de lá as pedras de moinho para farinha de polenta, que um ano após construiu na localidade de Macaco. Com ele veio a família de Joaquim Fontana.

ANGELO FANTIN - Imigrou da Itália para o Brasil em 1949, desembarcando no Porto de Santos, SP, de onde se dirigiu para Carazinho, RS, e de lá para Chapecó, onde chegou no mês de julho de 1950. De Chapecó, a pedido de Arnaldo Mendes, imediatamente viajou a São Lourenço para trabalhar como agrimensor na empresa Saudades, o que fez durante um ano. Fixou-se na localidade de Três Voltas, onde exerceu atividade agrícola, usando métodos avançados, já que era formado como técnico agrícola na Itália. Em 1953, casou-se com Ida Libardoni, e dois anos após o casamento associou-se à Empresa Libardoni & Ltda, da qual se tornou um dos sócios mais importantes. Esta empresa foi muito poderosa por possuir moinho de trigo, comércio de madeira, frigorífico no Rio de Janeiro e a fábrica de biscoitos Parati, entre outras atividades. Com a dissolução da Empresa Libardoni, em 1988, Angelo Fantin tornou-se diretor proprietário da Parati, hoje a mais importante empresa de São Lourenço do Oeste, e uma das mais importantes do estado e do país na produção de massas e biscoitos. Os outros sócios, sob o comando da família Armindo Echer, e tendo o moinho como principal suporte econômico, formaram, em 1988, a Nutrisul, hoje a segunda indústria mais importante de São Lourenço do Oeste, depois da Parati.

ADÃO JANCZESKI – Originário de Veranopólis, RS , chegou em São Lourenço em julho de 1950. Era contador e com a criação do distrito tornou-se escrivão do Cartório de Registro Civil. Com a instalação do município tornou-se o primeiro escrivão do Cartório de Registro de Imóveis, transferido, em 1965 para o filho Sérgio Luiz Janczeski.

Entre as primeiras providências da nascente povoação de São Lourenço estava a construção da escola e da capela. Já em 1949 foi construída uma escola primária na Avenida Brasil e que funcionou de 1949 a 1953, tendo como primeira professora Carmela Rezzieri Garcia, e depois, em 1951, Armando Pagani, que passou o cargo para Elvira Fransozi e José Candido de Quadro Martins. A capela começou a ser construída em fevereiro de 1950, entregue aos padres capuchinhos. A chegada dos padres constituía-se em elemento primordial para o avanço da colonização.

Em 1951, começaram a chegar em São Lourenço muitas famílias provenientes de Itatiba do Sul, então distrito de Erechim, RS. Entre elas destacaram-se:

MAXIMILIANO NEGRI e LÍDIO SUTILLI, em maio de 1951. Maximiliano foi o primeiro ferreiro do lugar e Lídio era seu auxiliar. Fabricavam todos os instrumentos necessários de que precisavam os agricultores.

No mesmo ano, impressionados com o sucesso de Maximiliano Negri e Lídio Sutilli, chegaram muitos de seus conterrâneos:

AFONSO SUTILLI - que construiu o segundo hotel de São Lourenço;
ARTIBANO SUTILLI – ferreiro;
ALCIDES SUTILLI e ADIR SUTILLI – os primeiros seleiros e sapateiros. Tinham cortume próprio na sanga da vila perto do atual Cemitério;
GUIDO PIOVESAN E JOÃO MORANDI – os primeiros açougueiros do lugar;
HERMINIO LAZZARETI – agrimensor.

A partir de 1952, vieram outros imigrantes de Itatiba do Sul:

MARIA CERCHIARI – primeira parteira do lugar;

BENVENUTO PERIN – primeiro “intendente” do distrito, além de PRIMO MUCCELIN, ARI BODANESE, JOÃO MARAFON, VENUTO FACCI, BELARMINO FORCELINI, ANTONIO FRANCIOSI, e outros.

Nesses anos a vila de São Lourenço já era próspera. Havia estradas de carroça e caminhão em várias direções. A agricultura e a criação de suínos se desenvolveram devido às férteis terras do lugar, sendo possível transportar com caminhões, grande quantidade de milho, feijão, além de suínos, para os mercados consumidores de São Paulo e Rio de Janeiro. Na época não havia óleos vegetais e por isso a banha de porco era vendida por altos preços. Não se praticava a agricultura mecanizada e com o uso de fertilizantes. Era dos produtos agrícolas provenientes das terras de mato branco, como havia em São Lourenço e de modo geral no oeste de Santa Catarina e no sudoeste do Paraná que se alimentavam as grandes cidades do Brasil. Desta situação econômica se originou o desmatamento que atualmente tanto lamentamos.

Entretanto, naquele tempo tudo isso era progresso. A par do crescimento da produção agrícola proliferava a instalação de serrarias por toda parte, visando a transformação de árvores nativas em tabuas para construção, cujo principal destino também eram as grandes cidades. A produção da madeira tornou-se a principal fonte de economia de São Lourenço. Os madeireiros enriqueciam.

Este progresso, bem como o aumento da população, permitiram a criação do distrito de São Lourenço em 23 de agosto de 1951, e sua instalação em 14 de setembro de 1952.

Prevaleceu a denominação São Lourenço, que era muito antiga, em oposição ao nome de “Bracatinga”, em referência ao primeiro barracão, que era defendido por certas pessoas influentes e que já aparecia em alguns documentos, podendo ser mencionada a portaria de nomeação do inspetor de quarteirão Vicente Moraes, expedida em Campo Erê, a 05 de setembro de 1951.

Atraído pelas possibilidades de bons negócios, chegou MIGUEL ARCANJO IORIS, em 27 de junho de 1952, procedente de Severiano de Almeida, então distrito de Erechim, RS. Instalou em São Lourenço um grande comércio de produtos agrícolas que funcionou sob a denominação Irmãos Ioris Ltda.

Em fevereiro de 1954, chegaram a São Lourenço ALBINO REZZIERI E GILIO REZZIERI, que também instalaram um grande comércio, mais tarde associado à Empresa Libardoni e Cia Ltda.

A partir de então o número de imigrantes cresceu de forma acelerada, a tal ponto que, na data da emancipação, 1958, o município contava com aproximadamente 3.000 habitantes.

Na formação da população de São Lourenço do Oeste distinguem-se duas correntes de imigração: uma do Rio Grande do Sul composta de descendentes italianos, alemães e poloneses, bem como elementos lusos e outra da área rural do litoral sul catarinense, compreendendo apenas descendentes de italianos e elementos lusos, e sem nenhuma participação de descendentes de alemães. Trata-se de um fenômeno curioso e digno de maior estudo.

É interessante uma relação desses imigrantes.

Do litoral sul catarinense: Desiderio Costa, Inocente Pagani, Valentim Rosso, família Fontana, Paulo Salvador, José Garcia, Antonio Borges, Saturnino de Matos, Basílio de Matos, Emilio Campos (1950, primeiro padeiro) João Abatti (1951), José Abatti (1951), Joaquim Borges(1951), entre os mais antigos. Posteriormente temos: Albino e Gilio Rezzieri, Pedro Spricigo (1955, primeiro oleiro), famílias Peres, Mattei, Zilli, Bittencourt, Bauer (serrano), Cardoso, Menegasso, Mariot, Bratti, Tezza, Pandini (1960). Não aparece famílias de sobrenome alemão.

Do Rio Grande do Sul temos: Agostinho Stefanello, Ernesto Beuter, famílias Libardoni, Lazzarotto, Echer, Valduga, Tenutti, Bessegatto, Dallagnol, Biazussi, Camello, Janczeski, Sutilli, Negri, Marafon, Ebling entre os primeiros. Posteriormente: Otávio Marcon, Ioris, Selvino Galeazzi (1953), Deon, Suzin, Arnoldo, Erbes, Etges, Menegatti, Sordi (1954), Santin (1954), De Re (1954), Scariot, Bruscato (nota-se a presença predominante de famílias de origem italiana e alemã).

Esta relação não é completa, mas serve para mostrar a existência de duas correntes migratórias em São Lourenço do Oeste, uma gaúcha e outra catarinense ou serrana. E é importante assinalar que entre todos os municípios do Oeste Catarinense, São Lourenço do Oeste é o único que tem grande proporção de catarinense do litoral sul. Isto se deve ao fato de que o sócio e depois diretor da Empresa Saudades, Arnaldo Mendes e sua mulher Edite Aida Mendes eram do litoral.

Em cinco a seis anos de colonização São Lourenço teve um crescimento espetacular. No lugar onde só havia ranchos de caboclos ergueu-se uma grande vila. As colônias do interior transformaram-se em celeiros agrícolas. São Lourenço já era distrito e paróquia em 1952.

A instalação do distrito trouxe o Cartório de Registro Civil e o escrivão de paz. Portanto, tendo escrivão e padre, tornou-se possível o casamento civil e religioso, o que era de grande interesse para os colonos e que se tornou motivo de incremento da migração.

Havia um pequeno hospital, construído em 1954. O crescimento econômico permitiu a instalação, também em 1954, de um posto de arrecadação, tendo como encarregado Bruno Hack, subordinado à coletoria de Chapecó e elevado a coletor com a criação do município.

Em 1956, é construído o Educandário Santa Maria Goretti, dirigido por freiras Vicentinas, considerado uma das maiores instituições educacionais da região.

A prosperidade e o crescimento populacional eram notórios. Nessas condições, a população aspirava à emancipação do então distrito de São Lourenço, o que efetivamente ocorreu através da Lei Estadual n° 348 de 21 de junho de 1958, que criou o município de São Lourenço do Oeste, desmembrado de Chapecó.

Foi nomeado prefeito provisório Armando Pagani, professor e fotógrafo, que aqui chegou em 1951; tomou posse em 16 de julho de 1958.

Em 26 de julho de 1958,o município foi instalado.

Nas eleições de outubro de 1958 elege-se prefeito José Ebling, que venceu os adversários Armindo Echer e Bruno Hack.

No governo de José Ebling foi criada a comarca de São Lourenço do Oeste, em outubro de 1960, e instalada em fevereiro de 1961, tendo como primeiro juiz titular Cláudio Rodrigues de Araújo Horn.

Em outubro de 1963, como candidato único, é eleito prefeito Zeno Germano Etges. Na sua administração é concluída a construção da nova Igreja Matriz.

Foram sucessores de Zeno Germano Etges os seguintes prefeitos e respectivos vices:
- José Ebilng e Dr. Bruno (Bronislau Polan Breowicz) - 1968 a 1972;
- Sabino Santin e Elizeu Alencastro Rezzieri – 1972 a 1976;
- Dionísio Biazussi e Honório Bottega – 1976 a 1982;

Em âmbito estadual e nacional, nesse período, destacou-se o deputado federal Francisco Orestes Libardoni, que se elegeu pelo então MDB, nas eleições de 1970, 1974 e 1978, sempre entre os mais votados do estado de Santa Catarina.

Nas eleições municipais de 15 de novembro de 1982 elegeu-se prefeito Cairu Hack, tendo como vice Santos Zilli, o qual assumiu à prefeitura em 14.05.1986, pois Cairu Hack renunciou ao cargo para competir como vice governador na chapa de Amílcar Cazaniga. Encerrou o mandato em 1987.

Seguiram-se os seguintes prefeitos e vice:
- Dionísio Biazussi – Leonel Baldissera, 1988 – 1992;
- Álvaro Freire Caleffi – Ângelo Fantin, 1992 – 1996;
- Cairu Hack – José Ebling, 1996 – 2000;
- Álvaro Freire Caleffi – Edu Antonio Borges, 2000 – 2004;
- Tomé Francisco Etges – Nivaldo Lazaron, 2004 – 2008;
- Tomé Francisco Etges – José Carlos Echer – 2009 - 2012.

São passados assim 50 anos de emancipação e 150 anos de história.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

NEONAZISMO

Frequentemente a imprensa noticia violências cometidas por grupos neonazistas fantasiados de cabeça raspada, Skinheads, principalmente na Alemanha, alguns países da Europa, Estados Unidos, Argentina e Brasil. Trata-se de jovens que tentam reviver o ideais racistas em vigor na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial e durante esse conflito.
Essas teses racistas sustentavam a superioridade germânica frente a outras raças – latinos, negros, judeus e asiáticos. Terminada a guerra, derrotada a Alemanha e morto Hitler, o racismo germânico, junto com outros racismos, passou a ser condenado por todos os povos civilizados e pela Carta Universal dos Direitos Humanos.
Por isso, reviver especificamente o racismo alemão, além de ser considerado crime contra a humanidade, não deixa de ser uma utopia inviável, no aspecto político, social e econômico, porque hoje, ao contrário do que acontecia nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, a Alemanha deixou de ser grande potência, em condições de impor suas teorias no mundo, como antes fazia.
A teoria da superioridade da raça germânica propagou-se na Europa e no mundo à medida que a Alemanha, a partir da sua reunificação em 1870, e sob o comando do imperador Guilherme II, fundador, nesse ano, do 2° Reich, cresceu e se tornou a principal potência industrial e militar da Europa continental.
O mundo, então, se curvava não somente ao poderio econômico, político e militar alemão, mas também à sua expressão cultural. Exemplo desta vassalagem em relação ao germanismo temos no Brasil com o livro “Canaã”, publicado em 1902, do escritor modernista Graça Aranha, no qual ele introduz um personagem alemão de nome Lentz, implacável defensor da supremacia racial germânica. O filósofo Tobias Barreto, da mesma época, também foi adepto do pan-germanismo, assim como muitos escritores, filósofos, historiadores e cientistas de todo o mundo ocidental.
No Brasil, ainda, o aniversário do Kaiser Guilherme II era comemorado com festas, bandas e discursos em todas as cidades de origem alemã do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o que bem mostra a poderosa influência do germanismo.
Ser alemão era motivo de orgulho porque a Alemanha era exemplo de progresso, a maior nação do continente europeu e a segunda potência do mundo após os Estados Unidos
A Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918 derrubou o Império Alemão, ou seja, o 2° Reich, que foi revivido por Hitler com a proclamação do 3° Reich, o qual também ruiu com a Segunda Guerra Mundial.
A grandeza econômica, política e militar da Alemanha de 1870 a 1945 deu fôlego à teoria da superioridade germânica.
Mas hoje a Alemanha não possui a mesma grandeza de outrora e por isso o racismo pregado pelos carecas não mais poderá vingar. Embora a Alemanha ainda seja uma nação economicamente forte, não chega aos pés da China em termos militares, políticos e demográficos. E sua economia já foi sobrepujada por essa nação asiática. Agora a bola da vez da vez é o “perigo amarelo”, previsto por Napoleão Bonaparte, o qual há 200 anos disse: O dia em que a China despertar o mundo tremerá. Já está tremendo...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

INTEGRAÇÃO DO SUL AO BRASIL

Para conduzir tropas de mulas compradas na região do Prata, Cristóvão Pereira reabriu e melhorou, em 1732, a Estrada dos Conventos, assim chamada porque no seu trajeto se viam morros com figura de conventos, desde o rio Araranguá até São Joaquim, rumo aos Campos de Lages, Curitiba e Sorocaba, tornando, com isso, possível as comunicações, até Minas Gerais a partir dos Campos de Viamão. Essa estrada fazia parte dos planos do Governo de São Paulo para a conquista do sul, e para construí-la, contratou, em 1728, Francisco de Souza Farias, que abriu picada desde a serra gaúcha, passando por São Joaquim até Curitiba, de onde seriam alcançados caminhos já existentes até Minas Gerais. A estrada serviria para levar muares, gado e charque até Minas Gerais, onde estavam sendo exploradas minas de ouro, envolvendo grande massa de trabalhadores. Nos planos do governo de São Paulo e da Coroa Portuguesa era necessário ampliar e consolidar esse projeto, que integraria o sul ao norte do Brasil. Nesse sentido, com patente de coronel de ordenanças, sai Cristóvão Pereira de Abreu, de Minas Gerais, comandando pequena expedição, rumo ao Rio Grande do Sul; marcha em direção a ilha de Santa Catarina e a seguir para Laguna, onde arregimentou voluntários, levando consigo todos os homens capazes, e com eles formou uma tropa de 160 homens, com a qual chegou ao Porto do Rio Grande, em 27 de setembro de 1726. Ali chegando, comprou 1.500 cavalos e reuniu 1.200 vacas, lançando as raízes de uma vila, que seria o berço da civilização do Rio Grande.

OCUPAÇÃO DO EXTREMO SUL

Ocupação do Extremo Sul

Em consequência das novas rivalidades surgidas na Europa entre Portugal e Espanha, a Coroa Portuguesa, tomando a iniciativa das hostilidades, promoveu a fundação, em 1680, da Colônia do Sacramento, na desembocadura do Rio da Prata, na atual República do Uruguai. A fundação desta colônia dá início a um período de confrontos e guerras entre Portugal e Espanha que durou mais de 100 anos. A Espanha, agindo através de Buenos Aires, nunca admitiu a presença dos portugueses na Colônia de Sacramento, tendo-a atacado por inúmeras vezes. Para dar proteção a esta colônia, Portugal, fundou em 1684, a cidade de Laguna, em Santa Catarina. Estava com isso evidente a intenção de Portugal em dominar toda costa do litoral e o território que vai de Laguna a Colônia do Sacramento. E por isso tratou de instalar, em 1737, um posto militar importante e decisivo, o Forte de Jesus Maria José, na Barra de Rio Grande, hoje cidade do mesmo nome.
Em resposta ao expansionismo dos portugueses, os espanhóis, através das missões jesuíticas manifestavam sua presença com a fundação dos Sete Povos das Missões, entre 1682 até 1706, sendo eles, por ordem cronológica, São Borja, São Nicolau, São Luiz, São Miguel Arcanjo, São João Batista, São Lourenço e Santo Angelo, todos no oeste do Rio Grande do Sul. As datas da fundação desses povos sugerem que se trata de uma represália à fundação da Colônia do Sacramento, em 1680.
Com estes atos de posse, por parte de Portugal, de um lado, e por parte da Espanha, do outro, estaria armado o cenário para conflitos que se estenderiam por mais de um século tendo por palco o Rio Grande do Sul.
Estariam lançados também os fundamentos da economia sulina, que seriam a criação de gado, cavalos, e muares, a produção e comércio de couro e charque, o tropeirismo e o militarismo. Era, enfim, o começo da futura civilização gaúcha, também denominada “civilização do cavalo”.
Meses antes da instalação de Rio Grande por José da Silva Paes, ali já se instalara o tropeiro Cristóvão Pereira de Abreu, cujas façanhas constituem um exemplo claro dessa “civilização do cavalo”.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

SUL DO BRASIL ABANDONADO

Completada a destruição das missões jesuíticas de Guairá e do Rio Grande do Sul, a região do extremo sul do Brasil caiu em abandono, tanto por parte do reino de Portugal, revivido em 1640, como do reino da Espanha, porque esta parte da América, hoje denominada Cone Sul, não tinha nenhuma fonte expressiva de riqueza, a não ser os cavalos e o gado, introduzidos desde 1626 pelos missionários jesuítas e desde quase 100 anos antes pelos dominadores espanhóis, que não tinham nada a ver com essa história, e multiplicaram-se livremente, em todos os campos do sul.
Os interesses da Espanha estavam inteiramente voltados à exploração das minas de prata de Potosí, na atual Bolívia, então sob a jurisdição do Vice Reino do Peru. Para se ter uma idéia desse fato basta salientar que as minas de Potosí, a 4.200 metros de altitude, foram descobertas em 1545 e se chamaram “Cerro de Potosí”, com 600 metros de altura, cujo minério tinha um teor de 75% a 85% de prata, propriamente uma “montanha de prata”. Com a descoberta de técnicas mais avançadas na exploração desse minério e consequente produção de maior quantidade de prata a Vila Imperial de Potosí, como então foi chamada, cresceu de forma espetacular. Por volta de 1650, logo após a destruição das missões jesuíticas de Guairá e do Rio Grande do Sul, a Vila Imperial de Potosí chegou a 160.000 habitantes, sendo a terceira cidade do mundo, depois de Londres e de Paris. No longo período de exploração das minas de prata de Potosí morreram 8 milhões de operários ou escravos, mas a produção conseguida teve influência na economia mundial, pois a prata, na Europa, passou a servir como lastro das moedas.
No lado brasileiro a preocupação econômica continuava sendo a produção de açúcar, mas já começavam as penetrações para o interior, em busca de minas de prata e de ouro, em direção às Minas Gerais. Nesta conjuntura os campos do Rio Grande do Sul e mesmo do Uruguai e da Argentina não exerciam nenhuma atração nem para os espanhóis e nem para os portugueses. Todavia, a rivalidade entre Espanha e Portugal volta a se acirrar a partir de 1670, com reflexos no extremo sul até então abandonado.

FRONTEIRAS DO OESTE - JESUÍTAS

A colonização do Brasil pelos portugueses começou pelo litoral atlântico, onde foram fundadas as primeiras vilas e cidades donorte até São Vicente. O litoral sul permanecia abandonado até a fundação de São Francisco do Sul, Desterro, Laguna e finalmente Rio Grande.
Entretanto, as fronteiras do oeste dos atuais estados do Paraná e Rio Grande do Sul foram ocupadas pelos espanhóis, por obra dos padres jesuítas, bem antes do povoamento do litoral pelos portugueses. A fronteira oeste de Santa Catarina ficou fora deste processo de ocupação.
A ordem dos padres jesuítas, também denominada Companhia de Jesus, foi fundada em 1534, por Inácio de Loiola. Teve rápido crescimento e alcançou poder político e econômico considerável. Em 1550 já estava instalada no Brasil e em 1554 o padre José de Anchieta fundou o Colégio Piratininga de São Paulo, origem da cidade hoje capital do Estado de São Paulo.
A partir da costa do Pacífico, dentro dos domínios exclusivos do rei da Espanha, os jesuítas estabeleceram-se no Peru, em 1568; na Argentina, em 1586 e no Paraguai, em 1588, onde instalaram bases para o avanço em direção à costa do Oceano Atlântico, povoada pelos portugueses.
Em cumprimento a este projeto os padres jesuítas, fundaram dezenas de reduções no atual Paraguai e nordeste da Argentina, e, entre 1610 a 1630, outras 12 missões de índios guaranis na região de Guairá, as denominadas Missões de Guairá, que ocupavam quase todo o atual Estado do Paraná, ressalvada uma pequena faixa do litoral. No atual Rio Grande do Sul implantaram, entre os anos de 1626 a 1634, 18 reduções, também de índios guaranis, denominados tapes, numa vasta área que se estendia, pelo centro do Estado desde o atual município de São Borja até as proximidades do atual Porto Alegre.
No período da fundação dessas missões o Brasil se encontrava sob o domínio da Espanha, mas este reino não exerceu controle sobre os bandeirantes paulistas, que de São Vicente penetravam em direção oeste em busca de minas de ouro, das quais havia notícias ou para apresar índios que venderiam como escravos nas incipientes lavouras de cana-de-açúcar. As missões jesuíticas, tanto de Guairá como do Rio Grande do Sul, foram vistas pelos bandeirantes como presa fácil e lucrativa, devido a escassez de escravos negros importados da África. Pelo fato de Portugal e Espanha se encontrarem em guerra com a Holanda, essa nação se apossou dos portos portugueses em Angola e outros pontos da África, cortando o fluxo de escravos para o Brasil, diante do que a alternativa dos produtores de cana-de-açúcar era suprir a escassez de mão-de-obra africana pela escravidão indígena.
No Brasil daquela época o negócio mais lucrativo era a produção de açúcar de cana, que prosperava desde São Paulo até o extremo nordeste e o comércio de escravos africanos para manter a economia açucareira. Entretanto, nas colônias espanholas da costa do Pacífico e do Caribe, além das lavouras com seus escravos, já se exploravam as minas de prata de Potosí, descobertas por volta de 1545, cuja fabulosa produção mudou o curso da economia da Europa.
Os bandeirantes paulistas, comandados por Manoel Preto e Antonio Raposo Tavares, começaram a atacar as missões de Guairá a partir de 1618 sem trégua até 1630, provocando sua total destruição. Apresaram a maior parte dos 70.000 a 100.000 índios que lá havia levando-os aos mercados de São Paulo. Os sobreviventes fugiram de barco, descendo o Rio Paraná, e se refugiaram em outras missões do Paraguai e do nordeste da Argentina.
As missões do Rio Grande do Sul não tiveram melhor sorte. A partir de 1636 foram atacadas pelos bandeirantes paulistas Fernão Dias Paes Lemes, Raposo Tavares e André Fernandes, no que foram auxiliados pelos índios tupis, charruas e minuanos, inimigos dos guaranis. Até 1639, as missões foram totalmente arrasadas; os índios que não foram levados cativos para São Paulo debandaram para a margem direita do Rio Uruguai, no lado Argentino, onde formaram outras reduções.
Os confrontos dos bandeirantes paulistas com os índios aldeados pelos jesuítas espanhóis no Rio Grande do Sul e no Paraná foram os primeiros grandes confrontos que a história registra com os “espanhóis confinantes”.
A atual divisa do Estado de Santa Catarina com a Argentina não foi nessa época e nunca depois palco de confrontos entre portugueses ou brasileiros contra espanhóis confinantes. Por isso, na história de Santa Catarina as gloriosas narrativas a respeito de espanhóis confinantes constituem distorção dos fatos. As fronteiras que aqui existiam eram meramente geográficas, não fronteiras vivas como as do Rio Grande do Sul. O que existia na fronteira do Brasil com a Argentina era apenas uma passagem, na nascente do Rio Peperi, ligando Brasil e Argentina, utilizada desde meados do século XIX por tropeiros e contrabandistas.

POVOAMENTO DE SANTA CATARINA

PARTE 2. PLANALTO CENTRAL


No Planalto Central de Santa Catarina predominavam os campos, e por isso seus primeiros povoadores dedicavam-se à criação de gados, mantendo-se isolados da faixa litorânea. Implantou-se nessa região, a partir do início do século XVIII, o caminho das tropas, cujo percurso iniciava ao sul, em Viamão e Vacaria, passando pelos campos depois denominados Lages e Curitibanos em direção a Sorocaba. Nesse trajeto o tropeiro paulista Antonio Correa Pinto de Macedo fundou Lages em 1766. Logo em seguida tropeiros de Curitiba, fundaram Curitibanos, daí a origem do nome.
Esse caminho de tropas, ligando-se aos campos de Viamão, criou no planalto de Santa Catarina um tipo de economia e de costumes idênticos aos do Rio Grande do Sul, totalmente diferentes daqueles serra abaixo, da faixa do litoral, com a qual a integração propriamente inexistia. Tanto isso é verdade, que Lages e os campos adjacentes faziam parte da Província de São Paulo, até 1820, e sua integração a Santa Catarina, a partir dessa data, teve caráter somente político-administrativo. Os laços culturais e econômicos permaneciam com o Rio Grande do Sul.

POVOAMENTO DE SANTA CATARINA

PARTE 1. LITORAL


Topograficamente o território de Santa Catarina é formado por três partes distintas: o Litoral, entre o mar e a serra; o Planalto Central, que se estende até o Vale do Rio do Peixe e o Oeste, desde este rio até o rio Peperi, na fronteira com a Argentina.
As populações que se estabeleceram e se desenvolveram na faixa litorânea não subiram a serra para povoar o Planalto Central, e as do Planalto não migraram para o oeste, obstacularizadas pelo Vale do Rio do Peixe, ingreme e coberto de densas florestas.
Os movimentos migratórios, especialmente no Planalto Central e no oeste, vinham do norte, a partir de São Paulo, dirigindo-se para o Sul, numa primeira fase, a da conquista territorial. Consolidada esta primeira fase, verificaram-se movimentos inversos, do Sul para o Norte, a partir do Rio Grande do Sul.
O litoral, desde o descobrimento do Brasil, passou a ser visitado por navegadores portugueses, e espanhóis que demandavam ao Rio da Prata. Os portugueses tiveram iniciativa de fundar os primeiros povoados como: São Francisco do Sul (1655), Desterro (1675) e Laguna (1684).
A partir de 1754 chegaram levas de açorianos que se estabeleceram na Ilha do Desterro e Laguna, principalmente.
Os primeiros habitantes do litoral viviam da pesca, do fabrico da farinha de mandioca, da cachaça, e da produção de óleo de baleia, monopólio do governo português. Não havia exploração de economias extensivas, como o gado, cana-de-açúcar, café, entre outros. Formaram-se, então, comunidades de pequenos proprietários e pescadores.
As migrações dos habitantes do litoral, ao contrário do que ocorria no restante do Brasil, não se dirigiam para o oeste, mas para os campos do Rio Grande do Sul, acompanhando a faixa da costa do mar. Mesmo os imigrantes alemães chegados a partir de 1828, em São Pedro de Alcântara, e em 1850 em Blumenau, não avançaram rumo ao Oeste, região que ficou aberta aos conquistadores e primeiros colonizadores vindos do Norte.