sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ESPANHÓIS CONFINANTES E DOMÍNIO ESPANHOL

Em termos de divisão geográfica, na América do Sul, os espanhóis sempre foram os confinantes do Brasil, e isto começa em 1494. Após a descoberta da América, em 1492, Portugal, Espanha, as principais potências marítimas do mundo da época, estavam a ponto de entrar em guerra pelo domínio das terras descobertas.
O Papa Alexandre VI, prevendo que uma guerra entre duas potências cristãs traria grandes prejuízos para a cristandade intermediou um acordo, do qual se originou o Tratado de Tordesilhas, que estabelecia um limite entre os domínios de Portugal e da Espanha no Novo Mundo. Foi traçada assim uma linha imaginária, ao Meridiano de Tordesilhas, que passaria a 370 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde e Açores e que, concretamente, no Brasil, se estenderia de Belém do Pará a Laguna, em Santa Catarina; as terras a leste dessa linha seriam de Portugal e a oeste da Espanha. A autoridade papal garantiu o cumprimento do acordo, e, quando o Brasil foi descoberto, em 1500, já era terra de Portugal.
A colonização da América do Sul começou pelo litoral. A Espanha fundou povoações ao longo da costa do Mar do Caribe e do Oceano Pacifico, enquanto que os portugueses estabeleceram-se no litoral atlântico, fundando a primeira povoação denominada São Vicente, em 1532, no sul, e muitos anos depois povoações mais ao norte, a começar da Bahia e Rio de Janeiro.
A roda da história girou, e, em 1580, faleceu o Rei de Portugal, Dom Henrique, sem deixar herdeiros. Por direito, embora remoto, o Rei Felipe II, da Espanha, seria o seu sucessor, e foi assim coroado rei de Portugal. Este acontecimento fez com que todas as terras pertencentes a Portugal, inclusive o Brasil, passassem aos domínios de Espanha, situação que perdurou até 1640, quando foi restaurado o reino português.
Sob o domínio espanhol não havia limites territoriais a serem respeitados, o que permitiu aos colonizadores portugueses, com base de apoio em São Vicente avançarem para o oeste, sem qualquer barreira legal, ultrapassando a então Linha de Tordesilhas.
Por algumas décadas não se verificaram conflitos entre espanhóis e portugueses na América do Sul, até que surgissem as missões dos padres jesuítas espanhóis, a partir de 1610, na região de Guairá, atual Estado do Paraná e a partir de 1626 no Rio Grande do Sul.
Na data do descobrimento da América a Espanha era o maior Império do mundo e nessa posição se manteve por mais de dois séculos, embora atacada e desgastada pelos rivais emergentes: Inglaterra, Holanda, França e finalmente os Estados Unidos da América. Considerando-se apenas o seu território, a Espanha, em 1492, era composta por Castela e Aragão, com 8 milhões de habitantes, contra 10 milhões da França, 2 milhões da Inglaterra e em torno de 1 milhão de Portugal. Para colonizar e administrar a América do Sul instalou o vice-reino do Peru, composto do que seriam mais tarde os países do Peru, Equador, Bolívia, Argentina e Paraguai; o vice-reinado de Nova Granada, que seria a Colômbia; a Capitania Geral da Venezuela, que seria a Venezuela e Guianas e a Capitania Geral do Chile, que seria o Chile. Em 1776, criou o vice-reinado da Prata, composto pelos paises que hoje são Bolívia, Argentina e Paraguai.
O território que depois se tornaria vice-reino da Prata, em 1776, foi o mais abandonado pela Espanha, da mesma forma que o território que hoje compõe o Rio Grande do Sul foi o mais abandonado por Portugal. Todavia, ambos passaram a ter importância a partir de 1700. Até a data do Tratado de Madrid e da Guerra Guaranítica, o Rio Grande do Sul era domínio da Espanha, com exceção da faixa do litoral. Na luta pela posse deste território Portugal teve melhor sorte, porque o vice-reino da Prata era despovoado, embora a metrópole espanhola fosse a nação poderosa do mundo. Em 1776, recém criado vice-reino do Prata, a Argentina teria em torno de 300.000 a 350.000 habitantes, não se contando Paraguai e Bolívia. As cidades principais eram Buenos Aires com aproximadamente 25.000; Córdoba, 8.000 habitantes, e Santa Fé, 1.400 habitantes.
Em todo o território que depois seria o vice-reino do Prata, no inicio da colonização, havia em torno de 1.5 milhões de índios, a maior parte deles na Bolívia e no Alto Peru, restando em torno de apenas 300.000 índios no território da atual Argentina.
Por estas estatísticas é possível se concluir que as missões jesuíticas do Rio Grande do Sul, povoadas em grande parte por guaranis vindos da margem direita do rio Uruguai, não seriam grandemente povoadas.

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