quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

FRONTEIRAS DO OESTE - JESUÍTAS

A colonização do Brasil pelos portugueses começou pelo litoral atlântico, onde foram fundadas as primeiras vilas e cidades donorte até São Vicente. O litoral sul permanecia abandonado até a fundação de São Francisco do Sul, Desterro, Laguna e finalmente Rio Grande.
Entretanto, as fronteiras do oeste dos atuais estados do Paraná e Rio Grande do Sul foram ocupadas pelos espanhóis, por obra dos padres jesuítas, bem antes do povoamento do litoral pelos portugueses. A fronteira oeste de Santa Catarina ficou fora deste processo de ocupação.
A ordem dos padres jesuítas, também denominada Companhia de Jesus, foi fundada em 1534, por Inácio de Loiola. Teve rápido crescimento e alcançou poder político e econômico considerável. Em 1550 já estava instalada no Brasil e em 1554 o padre José de Anchieta fundou o Colégio Piratininga de São Paulo, origem da cidade hoje capital do Estado de São Paulo.
A partir da costa do Pacífico, dentro dos domínios exclusivos do rei da Espanha, os jesuítas estabeleceram-se no Peru, em 1568; na Argentina, em 1586 e no Paraguai, em 1588, onde instalaram bases para o avanço em direção à costa do Oceano Atlântico, povoada pelos portugueses.
Em cumprimento a este projeto os padres jesuítas, fundaram dezenas de reduções no atual Paraguai e nordeste da Argentina, e, entre 1610 a 1630, outras 12 missões de índios guaranis na região de Guairá, as denominadas Missões de Guairá, que ocupavam quase todo o atual Estado do Paraná, ressalvada uma pequena faixa do litoral. No atual Rio Grande do Sul implantaram, entre os anos de 1626 a 1634, 18 reduções, também de índios guaranis, denominados tapes, numa vasta área que se estendia, pelo centro do Estado desde o atual município de São Borja até as proximidades do atual Porto Alegre.
No período da fundação dessas missões o Brasil se encontrava sob o domínio da Espanha, mas este reino não exerceu controle sobre os bandeirantes paulistas, que de São Vicente penetravam em direção oeste em busca de minas de ouro, das quais havia notícias ou para apresar índios que venderiam como escravos nas incipientes lavouras de cana-de-açúcar. As missões jesuíticas, tanto de Guairá como do Rio Grande do Sul, foram vistas pelos bandeirantes como presa fácil e lucrativa, devido a escassez de escravos negros importados da África. Pelo fato de Portugal e Espanha se encontrarem em guerra com a Holanda, essa nação se apossou dos portos portugueses em Angola e outros pontos da África, cortando o fluxo de escravos para o Brasil, diante do que a alternativa dos produtores de cana-de-açúcar era suprir a escassez de mão-de-obra africana pela escravidão indígena.
No Brasil daquela época o negócio mais lucrativo era a produção de açúcar de cana, que prosperava desde São Paulo até o extremo nordeste e o comércio de escravos africanos para manter a economia açucareira. Entretanto, nas colônias espanholas da costa do Pacífico e do Caribe, além das lavouras com seus escravos, já se exploravam as minas de prata de Potosí, descobertas por volta de 1545, cuja fabulosa produção mudou o curso da economia da Europa.
Os bandeirantes paulistas, comandados por Manoel Preto e Antonio Raposo Tavares, começaram a atacar as missões de Guairá a partir de 1618 sem trégua até 1630, provocando sua total destruição. Apresaram a maior parte dos 70.000 a 100.000 índios que lá havia levando-os aos mercados de São Paulo. Os sobreviventes fugiram de barco, descendo o Rio Paraná, e se refugiaram em outras missões do Paraguai e do nordeste da Argentina.
As missões do Rio Grande do Sul não tiveram melhor sorte. A partir de 1636 foram atacadas pelos bandeirantes paulistas Fernão Dias Paes Lemes, Raposo Tavares e André Fernandes, no que foram auxiliados pelos índios tupis, charruas e minuanos, inimigos dos guaranis. Até 1639, as missões foram totalmente arrasadas; os índios que não foram levados cativos para São Paulo debandaram para a margem direita do Rio Uruguai, no lado Argentino, onde formaram outras reduções.
Os confrontos dos bandeirantes paulistas com os índios aldeados pelos jesuítas espanhóis no Rio Grande do Sul e no Paraná foram os primeiros grandes confrontos que a história registra com os “espanhóis confinantes”.
A atual divisa do Estado de Santa Catarina com a Argentina não foi nessa época e nunca depois palco de confrontos entre portugueses ou brasileiros contra espanhóis confinantes. Por isso, na história de Santa Catarina as gloriosas narrativas a respeito de espanhóis confinantes constituem distorção dos fatos. As fronteiras que aqui existiam eram meramente geográficas, não fronteiras vivas como as do Rio Grande do Sul. O que existia na fronteira do Brasil com a Argentina era apenas uma passagem, na nascente do Rio Peperi, ligando Brasil e Argentina, utilizada desde meados do século XIX por tropeiros e contrabandistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário